Banda da terra do CR7 comemora sucesso no Brasil, admite confusão por sotaque e nega fazer música para bombar na web
- bitencourtludy
- 25 de nov.
- 6 min de leitura

Após sucesso no TikTok, portugueses do Napa tentam manter público brasileiro e celebram versão em forró
FOTO: Reprodução/Instagram
Há quem diga que uma
música só faz sucesso de verdade no Brasil se ganhar uma versão em forró. Os músicos do Napa conseguiram. Cantando sobre a Ilha da Madeira, terra natal de Cristiano Ronaldo e localizado a quase 7 mil km do Brasil, a banda portuguesa viralizou nas redes sociais com o hit Deslocado e viu a música acertar o público brasileiro em cheio. Meses depois do sucesso, o grupo aposta em uma colaboração com os hitmakers da Jovem Dionísio para manter o público do País.
Na contramão dos funks e raps brasileiros que tomam as paradas do Spotify em Portugal, os Napa fizeram sucesso com uma balada indie rock sobre um sentimento especial para os falantes da língua: a saudade. Há alguns meses, os feeds nas redes sociais eram tomados de vídeos com Deslocado como trilha sonora. Tempo de namoro, a falta de casa, até mesmo o amor por esportes. Tudo isso era tratado na mesma música, em publicações diferentes.

Após sucesso no TikTok, portugueses do Napa tentam manter público brasileiro e celebram versão em forró
FOTO: Reprodução/Instagram
Pouco tempo depois do sucesso absoluto, a banda apostou em Amor de Novo, uma parceria com a Jovem Dionísio lançada no dia 6 de novembro. Com os hits Acorda Pedrinho e Tô Bem no repertório, a banda brasileira é o primeiro feat internacional dos portugueses. Donos de sucessos do TikTok, os grupos têm uma opinião é consenso: a intenção não é ‘fabricar’ um novo viral.
Primeiro feat internacional é com brasileiros
A ideia de juntar dois sotaques em português nasceu em um writing camp, um acampamento de criação para compositores. Formada por Guilherme Gomes, Francisco Sousa, João Rodrigues, Diogo Góis e Lourenço Gomes, a banda ‘gringa’ participava a imersão quando recebeu a proposta do empresário brasileiro Tiê Castro.
No maior estilo português, Guilherme conta o que pensou da ideia de chamar a Jovem Dionísio para uma colaboração. “Nós achamos fixe! [expressão comum em Portugal para designar algo interessante]”, responde sem titubear. “Temos muitas referências em comum. Foi um processo bastante ágil, muito fácil trabalhar com eles”, completou.
Além da sintonia natural, os Napa admitem que a união ao grupo brasileiro é uma estratégia e tanto para manter o sucesso por aqui após Deslocado. “De certa forma, é uma boa forma de continuar esse hype que nós temos aí no Brasil. Mas, acima de tudo, fizemos pela música em si. Acreditamos em como a canção estava a ficar”, defende Guilherme.
Para Gabriel Mendes, da Jovem Dionísio, o marco do primeiro feat internacional também foi especial. “É raro de acontecer esse sucesso com bandas portuguesas entre os brasileiros. Vi essa estrela cadente e falei: ‘Cara, difícil’. Tem muita música aqui no Brasil a galera acaba não escutando música portuguesa. Quando eu vi que eles tinham um estilo parecido com o nosso e o Tiê mandou a gravação, só pensei: ‘Vamos’”, lembra.
‘Espero que os deuses do algoritmo nos abençoem’
Tanto o grupo português quanto o brasileiro fizeram tanto sucesso nas redes sociais que nenhum usuário médio passou ileso de ver inúmeros vídeos com as músicas. Só no TikTok, o áudio de Deslocado foi utilizado em mais de 800 mil publicações e gerou trends com propostas diferentes.

Banda brasileira Jovem Dionísio faz primeiro feat internacional com os Napa
FOTO: Reprodução/Instagram
Algo parecido aconteceu com a Jovem Dionísio no Brasil nos anos anteriores. Quem não viu um vídeo com a famosa Acorda, Pedrinho ou alguém mostrando o look do dia com os versos Cê reparou que eu me arrumei?/ Tô bonitinho?. Mesmo ‘graduados’ em viral, ambos negam que fazem música para estourar na internet.
“A nossa canção virou trend sem muito esforço da nossa parte. Ao escrever Deslocado, pensamos na Ilha da Madeira, uma coisa muito específica. Depois, ficamos surpreendidos por isso ter acontecido. Mas eu acho que se começarmos a fazer música a pensar nisso, vai-se perder muito da essência”, explica Guilherme.
“Eu acho que é fazer a música e depois esperar que os deuses do algoritmo do TikTok e do Instagram nos abençoem com mais uma um sucesso (risos). Porque, além disso, acho que não conseguimos. Nós não somos muito das dancinhas. Se começarmos também a fazer esses caminhos de trends, vamos buscar um público que, se calhar. não nos interessa tanto”, completa.
O pensamento é o mesmo de Gabriel, da Jovem Dionísio. “Forçar um conteúdo não é da nossa natureza. Se a gente conseguir fazer um dia, beleza”, garante. Segundo o brasileiro, a melhor parte de ver um viral nascer naturalmente é entender as várias interpretações da música feitas por quem ouve.

Após sucesso no TikTok, portugueses do Napa tentam manter público brasileiro e celebram versão em forró
FOTO: Reprodução/Instagram
“O mais divertido e gratificante é você criar uma história na sua cabeça, compor, produzir, e as pessoas reinterpretarem isso da maneira delas. Isso é legal e orgânico. É fazer a música e deixar que o mundo diga se ela tem que ser viralizada ou não, ou ser feita conteúdo ou não”, argumenta.
‘Existe um pouco de resistência ao sotaque’
Apesar de ser a primeira colaboração internacional do grupo, essa não é, nem de longe, a primeira vez que artistas brasileiros e artistas portugueses se unem em um feat. Caetano Veloso e Carminho, Iza e Ivandro, António Zambujo e Yamandú Costa são alguns dos nomes que já trilharam esse caminho. No entanto, os Napa impressionaram por conseguirem emplacar uma música solo, totalmente em “português de Portugal”.
Para Guilherme Gomes, a dificuldade de uma banda portuguesa cair no gosto dos brasileiros pode ser explicada pelo enorme mercado fonográfico nacional.
“O mercado brasileiro é tão grande, tem tanta variedade, tantos gêneros. Enquanto nós somos um país tão pequenino, que vamos buscar o som de todos os países porque quase que precisamos disso para diversificar a nossa própria música”, explica.
Além do tamanho da indústria fonográfica brasileira, o português também acredita que há um certo tipo de resistência ao sotaque diferenciado. No próprio hit que emplacou no Brasil, os Napa usam palavras desconhecidas no país, como “Betão”, para se referir a concreto. Segundo o vocalista, a estranheza é só ‘falta de hábito’.
“Pode haver sempre um bocadinho uma resistência ao sotaque. Tem pessoas que acham estranho o jeito que nós cantamos ou até dizem que parece um português arcaico ou algo assim. Para mim, é a falta de ouvir, falta de habituação. Talvez no futuro, mais artistas portugueses vão tocar no Brasil, esperamos nós”, diz.
Mesmo vendo certa “resistência”, os portugueses não se afetam com a dificuldade. Vindos da Ilha da Madeira, os músicos precisaram lidar com uma certa “estranheza” dentro do próprio país. Os artistas só furaram mesmo a bolha em Portugal quando ganharam o 59º Festival RTP da Canção, em março.
“Antes de explodir no Brasil, tivemos de explodir da Madeira para Lisboa, que já foi um desafio. Viemos de uma ilha pequeninha, em que também não tínhamos muitas referências de bandas que tinham dado sucesso em Portugal. Também temos um sotaque bastante carregado. Esse foi o nosso primeiro desafio e, depois, nos deparamos com o desafio de explodir no Brasil, que é uma coisa ainda mais surreal”, relembra.
Nascida em Curitiba, no Paraná, a Jovem Dionísio também se vê nesse cenário. “A gente também teve essa falta de grandes artistas daqui dando uma estourada. Eu acredito também que é por conta do sotaque e por estarmos muito longe da capital cultural, vamos dizer assim, que é Rio de Janeiro e São Paulo”, emenda Gabriel.
Versão forró feita por Ed Gama
Com o sucesso estrondoso de Deslocado no Brasil, os Napa ganharam um presente inevitável: uma versão da música em forró. Versos como Eu vim do meio do mar/ Do coração do oceano/ Eu tenho a minha vida inteira viraram Vim do sertão/ No meu rincão, vivi a vida inteira. O trecho em que Guilherme cita a Madeira também foi substituído por A minha casa cheira a macaxeira.
O autor da versão nordestina do hit é o humorista Ed Gama, que viralizou quando publicou um vídeo cantando a música no Instagram. Na rede social, o alagoano acumula mais de 2 milhões de visualizações. No Youtube, ele conta com mais de 1 milhão. Nomes como Zé Vaqueiro e Xand Avião também chegaram a interpretar a mesma canção na internet.

Banda brasileira Jovem Dionísio faz primeiro feat internacional com os Napa
FOTO: Reprodução/Instagram
Para Guilherme, a ideia é um presente. “Foi mais uma daquelas mutações da música que nos surpreendeu. Nós já tínhamos ouvido falar de forró, obviamente, mas quando o Ed Gama fez a versão, surpreendeu-nos muito”, conta.
A ‘mexidinha’ na letra não incomodou em nada o compositor, que fala da versão com um sorriso no rosto. “Achei bem feito e está adaptado ao estilo de vida que ele viveu. Não nos incomodou. Não iria fazer sentido ele cantar a Ilha da Madeira”, opina.
Fonte: Portal Terra








