Reconhecida como cidade com a segunda melhor água do mundo, Alagoinhas inspirou política nacional de saneamento
- bitencourtludy
- 15 de jul.
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Atualizado: 24 de jul.
Reconhecida oficialmente pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) como a cidade com a segunda melhor água do mundo, Alagoinhas, a aproximadamente 78 km de Feira de Santana, se tornou referência nacional por unir ciência, participação popular e gestão sustentável em um plano de saneamento ambiental considerado pioneiro no Brasil.
Elaborado entre 2003 e 2004, o Plano Municipal de Saneamento Ambiental (PMSA) colocou o município entre os primeiros do país a estruturar políticas públicas para a área com base em estudos técnicos, diagnósticos detalhados e ampla consulta à população. A experiência local foi tão inovadora que serviu de base para a formulação da Política Nacional de Saneamento Básico, sancionada em 2007.
Em meio ao aniversário de Alagoinhas, que completa 172 anos nesta quarta-feira (2), o g1 relembra o processo e destaca o que faz da água da cidade um destaque nacional.
Convênio entre entes públicos
Coordenado pelo professor titular da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e especialista no tema, Luiz Moraes, o plano foi fruto de um convênio entre a instituição de ensino e a prefeitura, com apoio da Petrobras.
A iniciativa envolveu 19 pesquisadores da Ufba e 10 técnicos do município na realização de estudos detalhados, que serviram de base para o planejamento dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana, manejo de resíduos sólidos e avaliação dos recursos hídricos subterrâneos. O resultado foi um documento robusto, aprovado pela Câmara de Vereadores e transformado em lei.

Alagoinhas tem a segunda melhor água do mundo — Foto: Ascom/Saae
"Esse plano foi um dos primeiros do Brasil a adotar uma abordagem participativa com envolvimento direto da população. O relatório final foi aprovado pela Câmara Municipal e transformado em lei, tornando Alagoinhas pioneira na criação de um plano municipal com essa estrutura", ressaltou o professor.
A proposta previa soluções para a ampliação dos serviços públicos de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem das águas pluviais e manejo de resíduos sólidos, visando atender toda a população da sede e dos sete distritos do município.
Cidade das águas
Até o nome do município faz referência à fama de "cidade das águas". De acordo com a professora de História Railda Valverde, moradora da cidade, a origem são as lagoas e nascentes da região.
“Primeiro foi Lagoinhas, depois Vila de Santo Antônio das Lagoinhas, até chegar a Alagoinhas. A água da cidade é tão boa que a gente bebe direto da torneira. E a usada na produção de cerveja tem um pH especial, ideal para fermentação, sem precisar de grandes correções”, destaca a professora.

O Saae atende 99% da população urbana e rural de Alagoinhas — Foto: Ascom/Saae
Estudo apontou alta qualidade da água e uso sustentável
De acordo com a Saae, o município é abastecido exclusivamente por água subterrânea, através de poços tubulares profundos que exploram o Aquífero São Sebastião, um dos mais produtivos do Recôncavo baiano. De acordo com o plano, a qualidade da água é considerada excelente e o volume utilizado representa menos de 20% da capacidade disponível.
Dados da instituição indicam que os melhores parâmetros foram registrados justamente no Sistema Aquífero Marizal-São Sebastião. Essa formação geológica permite vazões que chegam a 410 m³/h em poços mais profundos, com recarga natural promovida pela infiltração da chuva nas áreas de afloramento.

Lagoas da região inspiraram nome da cidade — Foto: Ascom/Saae
Água de Alagoinhas atrai indústria de bebidas
Com pH próximo da neutralidade, baixa salinidade e composição leve, a água de Alagoinhas ganhou fama e se tornou um dos principais motivos para a instalação de indústrias de bebidas na região. O Grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, escolheu o município para abrigar sua primeira unidade no Nordeste. A fábrica foi inaugurada em 2013 e, hoje, é uma das maiores da América Latina.
Segundo Renato Souza, gerente da unidade, a água local tem pH próximo de 7, baixa concentração de sais e é considerada ideal para a fabricação de cervejas e refrigerantes.
“A cidade foi escolhida por conta da qualidade da água, além da localização estratégica para distribuição na Bahia e em Sergipe”, explicou o gerente.

Água de Alagoinhas atrai indústrias de bebidas em Alagoinhas — Foto: Marketing/Grupo Petrópolis
A fábrica opera com capacidade anual de 9 milhões de hectolitros e gera cerca de 3.700 empregos diretos e indiretos, contribuindo com a economia local. Além disso, realiza tratamento interno da água captada e análises diárias para garantir a qualidade exigida nos processos de produção.
Ainda segundo o gerente, a unidade também investe em sustentabilidade, como o programa Aterro Zero, que reduziu em 23,5% a geração de resíduos industriais nos últimos anos. A iniciativa busca promover a destinação sustentável de 100% dos resíduos da produção, como bagaço de malte, leveduras e embalagens.

Fábrica opera com capacidade anual de 9 milhões de hectolitros e gera cerca de 3.700 empregos — Foto: Marketing/Grupo Petrópolis
Outro destaque é o programa de educação socioambiental “Bem GP”, que já alcançou mais de 2.950 estudantes de escolas públicas, ensinando práticas como o uso consciente da água, da energia e o descarte correto de resíduos. Somando familiares e amigos dos estudantes, estima-se que cerca de 12 mil pessoas tenham sido impactadas indiretamente pela iniciativa.

Fábrica foi inaugurada em 2013 e, hoje, é uma das maiores da América Latina — Foto: Marketing/Grupo Petrópolis
Revisão do plano é cogitada pela prefeitura
O plano de saneamento ainda está em vigor, e parte das ações previstas foi executada ao longo dos anos. Mas a atual gestão do município planeja revisar o documento nos próximos quatro anos para ajustá-lo à realidade atual e aos novos desafios da cidade.
Entre os investimentos em andamento, o Saae destaca a inauguração do novo Sistema de Esgotamento Sanitário de Narandiba, prevista para julho de 2025. O projeto contará com estações elevatórias e tratamento por digestor anaeróbio e lagoas de maturação, com eficiência de 99,9% na remoção de carga orgânica.

Revisão do plano está nos planos da gestão atual — Foto: Ascom/Saae
Outras ações incluem a expansão dos sistemas na zona rural, automação dos sistemas existentes e reforço no abastecimento em localidades como Capoeira, Fazenda Espuma e DISAI.
FONTE: www.g1.globo.com/ba








